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POESIA VISUAL E A CIBERPOESIA NA PERSPECTIVA DA ANIMAVERBIVOCOVISUALIDADE – AV3 


Por ANTONIO MIRANDA

 

“ A consciência não é um processo verbal. Todavia, durante os séculos da cultura fonética temos considerado a cadeia de referências como a marca da lógica e da razão. No entanto, a escrita chinesa dota cada ideograma de uma intuição total do ser e da razão, permitindo apenas  um reduzido papel à sequência visual como uma marca do esforço e da organização mental. ”                                                                McLUHAN

 

 Aborda a questão da poesia visual desde as origens da própria poesia como manifestação criativa até o advento das tecnologias computacionais. Ressalta o caso das vanguardas no Brasil no século XX, em particular os movimentos conccreto, neoconcreto e o poegoespacialismo, assim como as últimas manifestações  da poesia visual e a ciberpoesia, até o advento da poesia animada – a ANIMAVERBIVOCOVISUALIDADE – AV3 no presente século. 

                                                 ***

 

         A palavra escrita fraciona, seqüencializa o que é uniforme; o ideograma representa o todo, simultaneamente. São formas artificiais, algumas mais próximas das naturais do que outras.  Mas não é só o ideograma que traduz o todo, na linguagem escrita, é justo reconhecer. Existem recursos “visuais” metalinguísticos como a alegoria e a metáfora.

        Qual é a lógica, na difusa tecnologia do alfabeto — pergunta McLuhan (p. 104). Que novos alfabetos surgirão das experiências da comunicação extensiva que estamos a presenciar? Como é sempre o artista que antecede a compreensão dos fenômenos, é possível que a tecnologia instrumentalize uma forma nova de registro e intercâmbio de ideias e objetos tridimensionalmente, holograficamente, além da experiência gutenbergiana, além de considerarmos os novos recursos visuais em movimento — a animaverbivocovisualiade – o AV3, sobre o que discutiremos mais adiante.

        À primeira vista pareceria que a “poesia visual” seria uma tentativa de romper com a ditadura da forma discursiva do poema, e vencer o domínio da gramática ou mesmo da construção lineal-expositiva da tradição prosística. Faz sentido mas não basta para explicar o fenômeno da emergência do “verbivocovisual” na poesia. Podemos estudar sua emergência de diferentes perspectivas, mas todas elas convergiriam para uma análise da evolução das formas de “registro do conhecimento”, de produção de artefatos legíveis, e/ou reconhecíveis pelos demais membros de uma sociedade. De forma externa ao criador e, consequentemente, pública. Na sua origem, o “registro” ou “representação” foi pictórica — antes da invenção dos alfabetos —. “evoluindo” para a forma escrita — depois impressa — e, nos tempos atuais, reassociando às  imagens pela hipermidiação.
Estaríamos, então, assinalando que existiu um período de privilegiamento/sacralização do “escrito”  como forma exclusiva de institucionalização da poesia e, por extensão, das formas alfabetizadas, de literatura, necessariamente um registro codificado segundo regras de composição atentas à escritura consagrada pelos códigos ditados pela alfabetização?

        Antes de ser uma manifestação escrita, a poesia requeria uma forma de representação das ideias e dos fatos para facilitar sua comunicação e, pela codificação consequente, sua reconhecibilidade.
A forma de publicação erar oral e sua exteriorização pelo recurso da voz humana, auxiliada pela performance do declamador, mediante gestos, mímicas, ritmos e modulações  de voz, recurso extra-“linguístico”  de comunicação.  Linguístico vai entre aspas para lembrar que língua não está restrita à sua escritura... até chegarmos à aceitação mais atual de que “leitura” se faz não apenas de textos escritos mas também de improvisações, ou mesmo de filmes, músicas, pinturas e de quaisquer outras formas de registro da expressão humana.
Definimos “textos” como aquilo que inclui formas verbais, visuais, orais e numéricos na forma de mapas, gravuras e música, ou arquivos de sons gravados, filmes e vídeos; na realidade, tudo desde a epigrafia até as formas mais recentes de epigrafia.
Não é demais lembrar que já os gregos recorreram ao teatro como forma mais adequada de “corporificação” da poesia; não havia separação entre poesia e teatro porque o drama e a tragédia eram expressos em versos para facilitar sua memorização pelos atores, prática que se estende até às tragédias e comédias shakesperareanas.

        A poesia épica tinha um formato “inteligível, para sua composição e decodificação de padrão, no mundo das convenções simbólicas, de interação (apud McGARY, Kevin. O contexto dinâmico da informação.)*1

Em sua origem, as artes estavam muito articuladas, em formas interdependentes, antes de sua dicotomização nas épocas posteriores, separando mais nitidamente os gêneros literários e artísticos para os efeitos de sua produção  e difusão em formatos de comunicação como sejam a poesia escrita, a música no pentagrama, a pintura sobre a tela. Mas é importante ressaltar que não pode ser atribuída somente à tecnologia a qualidade no processo criativo dos poemas. A crítica especializada, mesmo diante da ausência de gêneros e estilos convencionais, não pode furtar-se à análise da proposta como mensagem, atente às teorias ou postulados de sua formulação, na tentativa de sua interpretação, mesmo quando elas escapam ao discurso literário, ao texto propriamente dito. Num caminho reverso, que vem de sempre, mas ficou mais patente a partir do movimento de  “integração das artes” com o Bauhaus, e o pensador Max Bense, influenciadores notórios de nossos experimentalistas do Concretismo, do Neoconcretismo e de outras manifestações de ruptura com as formas ortodoxas de produção dos objetos literários e artísticos em voga àquela época.

        Na fase escruia da poesia, desde a antiguidade clássica, os formatos impuseram-se para as expressões líricas, heroicas ou dramáticas, condicionando sua produção e uso público.  Essa “coisificação” da poesia teve — e continua tendo — muito que ver com sua visualização, partindo de estruturas homéricas da Ilíada e da Odisseia (desde  a fase ágrafa à impressa), passando pelo formalismo da metrificação dos romanceiros populares e pela forma erudita, do soneto petrarquiano, até à revolução do versilibrismo dos românticos e modernistas.

        Como entender a diagramação dos versos de Stéphane Mallarmé no seu célebre A coup de dés n´abolira le hasard, em português "Um lance de dados jamais abolirá o acaso", que é o título do primeiro poema tipográfico de que se tem notícia, com versos distribuídos no espaço. Como interpretar a ruptura de Ezra Pound? E o construtivismo de E. E. Cummings? E as articulações extra-linguísticas de Apollinaire?! E que dizer da solução desesperada do dadaísmo de romper com o formalismo oficial da literatura convencional?

        Não vamos discutir a influência do ideograma chinês, a estrutura 7-7-5 do haiku e de outras versificações formalistas, porque há uma vasta literatura sobre o tema, em todo o mundo e, particularmente no Brasil, com o aporte de Décio Pignatari, dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e de uma enorme quantidade de estudiosos da poesia de vanguarda. No entanto, é reconhecido internacionalmente o protagonismo brasileiro no experimentalismo, desde o nosso pioneiro Sousândrade, e o amplo movimento dos anos 50 e 60 a partir de São Paulo com a revista Noigandres e do Rio de Janeiro, com o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil — o SDJB, com Reynaldo Jardim e Ferreira Gulllar. Naquela fase, que coincidiu com o surgimento da Bossa Nova e sua internacionalização e com o auge de nossa arquitetura modernista que se completou com a construção de Brasília.

        O desenvolvimento tecnológico aplicado à montagem de poemas visuais, ou ciberpoema, ou mais recentemente, animaverbicovisualidade – AV3, é fantástico, se comparado àqueles primeiros recursos baseados na caligrafia, na composição mecanográfica (mimeógrafos), a colagem, no uso de letras set e até as animações digitais — os limites são infinitos. Desde aqueles versos geometrizados do grego Simias (de Rodes), com o poema O OVO, três séculos antes de Cristo:

     

Não resisto à ideia de relatar o encontro que tive com o grandioso Jorge Luis Borges, em 1962, na Biblioteca Nacional de Buenos Aires, quando, mesmo cego, entendeu e explicou o  meu poema DESEMBARQUE. Ele me disse que era surpreendente um poema com uma única palavra, transformando-se—se em dois triângulos  — um decrescrente e outro crescente, cujo movimento é imagético mas concreto...

 Certo que este poema depois teve versões impressas, escultórica e até animada pelas novas tecnologias, além deste clichê metálico de tipografia da época.  

***

        Com a realidade virtual, estaríamos diante “da participação direta em alguns processos das dinâmicas comunicacionais complexificadas” (PEREIRA, V. A., P. 105). Ou seja, no mundo da Comunicação Extensiva, imersiva, onde o ser humano precisa religar-se sensorialmente com o mundo representado, criado  pela cultura, de forma mais ampla. Dois tipos de imersividade: aquela em que a pessoa entra e participa da obra, vê e vivencia por dentro; e aquela imersividade da internet em que vamos a qualquer conteúdo em qualquer lugar do mundo, nos “lives” em que convivemos virtualmente com os demais, sem máscaras. Em toda parte possível, mesmo na condição de confinados do pandemônio do Covid 19...

        Design agora infinito, com o apoio de engenheiros e artistas plásticos, em projetos de pesquisas em universidades e centros culturais, em escala planetária, com recursos financeiros e tecnológicos significativos. Além de recursos de audição, até o olfato, o paladar, o tato nas condições imersivas, participantes, como os trabalhos de Wagner Barja, Darley Cardoso e de centenas de criadores (http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/poesia_visual.html).

        Mitos hodiernos. Lembrando que mythos vem do grego e significa enredo e estrutura, aproximando-se do termo latino na forma que está na base etimológica da palavra informação. Saímos do físico para o metafísico, o virtual, da criação coletiva, experimental sem limite ou fim determinado. Só estamos de acordo com uma hipótese: a de que a poesia se hasteia na tecnologia, reflete a sua circunstância. A diferença porque se rejeita ou aceita normas estabelecidas, embora tentando superá-las, quebrando regras, mas ditando novas regras... Arcaicos por antecipação... O intuitivo formado pelo cognitivo...

        O alfabeto é reducionista, o pictograma é infinitesimal.

        Não se pode ver a tecnologia apenas na tecnologia enquanto aparato e método, em sua apropriação como instrumento e recurso, mas por seu significado e consequência, por sua capacidade de transformação no processo criativo, como sua extensão. Não se deve observar apenas o como, mas também o quê representa. Outra propriedade da poesia visual é a plasticidade de sua configuração, em novas perspectivas, em transformação contínua.

***

 

APOLLINAIRE, Guillaume.  Poesia.  Tradução de Agusti Bartra.  México:
Joaquim Mortiz, 2000.  239 p. 

McGARY, Kevin. O contexto dinâmico da informação. Brasília: Briquet de Lemos;  1999.  •        206 p. ISBN-10 : 8585637129

 

MALLARMÉ, Stéphane. Mallarmé, poesía completa. Barcelona: Ediciones 29, 1979.  252 p.

MIRANDA, Antonio; SIMEÃO, Elmira. Comunicação extensiva e animaverbivocovisualidade — AV3: formas de expressão na criação artística, literária e científica. Paperback  Middletown, USA: Kindle – Amazon.com, 2018:

https://www.amazon.com/COMUNICA%C3%87%C3%83O-EXTENSIVA-ANIMAVERBIVOCOVISUALIDADE-cient%C3%ADfica-Portuguese-Book/dp/B07D7HBSSP/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1529935515&sr=8-1&keywords=av3

PEREIRA, Vinicius Andrade “Entendendo os meios: as extensões de McLuhan.” In:   LEMOS,  André; CUNHA, Paulo, orgs.  Olhares sobre a cibercultura.  Porto Alegre: Sulina, 2003, p. 91-112.

PIGNATARI,  Décio.  Informação, Linguagem, Comunicação.  1ª. ed.  São Paulo: Editora Cultrix, 1997.  126 p.

POUND, Ezra. A arte da poesia: ensaios.  São Paulo: Editora Cultrix, 1976.  163 p.

 

 


 

 

 
 
 
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